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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Entrevista: Fernando Lopes – Estudante de Educação Física (deficiente visual)

Em uma das turmas de Educação Física da universidade onde estudamos tem um aluno que chama a atenção não somente pela altura, mas também por ser deficiente visual. Imagine, realizar as tarefas de um curso como esse sem enxergar? Quantos de nós conseguiriam andar alguns metros com uma venda nos olhos sem tropeçar ou cair? Pois é... Agora, imagine como deve ser, para ele,  realizar outros tipos de tarefas como ir a uma loja comprar roupas? Esse estudante de educação física chamado Fernando Lopes nos contou. E essa entrevista você confere abaixo.



In Moda- Fernando, em que área da educação física você pretende trabalhar depois de formado?

 Eu pretendo trabalhar na área da educação especial, devido a algumas pessoas me procurarem, como pais com filhos deficientes visuais. Os filhos acabam sofrendo nas escolas com as atividades de educação física, acabam sendo excluídos por causa da falta de preparo de alguns profissionais.

In Moda- Fernando para você que tem deficiência visual, quais são as dificuldades que surgem na hora de comprar e escolher suas roupas e depois em casa para pegar no armário as peças que você quer?

Então,é assim, como eu já enxerguei e perdi a visão ao longo do tempo, tem uma memorização de tudo aquilo que eu vi quando eu enxergava. Então o que acontece? Quando eu perdi a visão, a primeira forma foi adaptar as coisas. Nem sempre vai ter uma pessoa à minha disposição pra eu falar : Ah, eu quero a roupa tal. Então, a opção foi separar , calças assim aqui; calças dessa cor ali, todas as camisas dessa cor, desse modelo, aqui...Você entendeu? Porque aí eu vou tateando,e  eu sei que caça tal vai estar lá e camisa tal também. Às vezes não acontece isso, mas na maioria das vezes é assim que funciona.

In Moda- E na hora de comprar essas roupas, como é que você faz, já que as lojas ainda não trabalham, por exemplo, com etiquetas em braile?

Então, na hora de comprar é junto com minha esposa ou junto com o meu amigo, que está aqui ao meu lado, o Mozart, que é um parceiro que está sempre comigo. É sempre perguntando pra ele como é que tá a tendência de moda, ele também já conhece um pouco do meu estilo, tipo de tênis que eu gosto, roupa...Mas quanto menos você depender, melhor pra você. Você sabe que sua capacidade vai aumentando, você vai a uma loja e não ter que pedir nada pro vendedor porque você sabe que vai colocar o dedo na etiqueta e vai ter a descrição do produto que você está procurando, entendeu? Isso é uma coisa muito benéfica, uma coisa maravilhosa que se vier a acontecer realmente vai ser muito bacana.

In Moda- Qual estilo de roupas você prefere?

Então, eu gosto muito de roupas em tecido tactel, tanto em calças, como em bermudas e bonés...É assim, tipo, eu não sou muito de usar jeans, eu odeio roupa social, só uso quando tenho que usar mesmo, em último caso. Então eu procuro sempre é...seguir nessa tendência...

In Moda- Esporte!

Fernando- Exatamente! Entendeu? Eu acho que é uma coisa que quando eu enxergava ficava muito bom e eu acabei adotando como um estilo fixo, entendeu?

Eu fiquei curiosa para saber se você já fez algum tipo de curso de mobilidade? (pergunta feita pela Carolina Custódio, que estava conosco durante essa entrevista)

Então, esse curso existe não se chama curso de mobilidade, ele se chama curso de AVDA – Atividade da Vida Diária.

Carol- Ah, que legal!

Fernando- É, um curso eu engloba várias coisas. Como guardar as coisas dentro da cozinha da sua casa, como você proceder para fazer um arroz, um feijão, um café... Tudo é técnica, porque você não vê, então você usa muito a técnica auditiva, o tato...Como você deixa as coisas na sala, no quarto, no guarda-roupas, no banheiro, entendeu? Aqui em São Paulo, a única Instituição que tem esse curso é a Fundação Dorina Nowill para cegos. A procura é muito grande, mas é uma coisa muito bacana.

In Moda- Eu fiquei sabendo que você arrasou em uma atividade de dança na faculdade. Como foi?

É,foi uma atividade de ginástica geral onde a gente tinha que desenvolver trinta e seis movimentos artísticos com e sem música. E aí, através dos professores- a nossa professor e o auxiliar de dança se propuseram a fazer comigo essa atividade , que não foi fácil! Tipo assim, eu não tinha final de semana porque tinha que ensaiar todo o dia, mas oi uma coisa bacana, emocionou a professora, que ficou chocada com os meus resultados. Ela não acreditava que seria possível isso acontecer. Ela até pediu desculpas, pois ela havia dito pro meu grupo que eles não conseguiriam realizar essa atividade comigo. E o pessoal conseguiu! Isso prova que a deficiência impõe limites só na cabeça dos outros

 

 
Samya(In Moda), Fernando Lopes e Mozart.