Em uma das turmas de Educação Física da universidade onde estudamos tem um aluno que chama a atenção não somente pela altura, mas também por ser deficiente visual. Imagine, realizar as tarefas de um curso como esse sem enxergar? Quantos de nós conseguiriam andar alguns metros com uma venda nos olhos sem tropeçar ou cair? Pois é... Agora, imagine como deve ser, para ele, realizar outros tipos de tarefas como ir a uma loja comprar roupas? Esse estudante de educação física chamado Fernando Lopes nos contou. E essa entrevista você confere abaixo.
In Moda- Fernando, em que área
da educação física você pretende trabalhar depois de formado?
Eu pretendo trabalhar na área da educação
especial, devido a algumas pessoas me procurarem, como pais com filhos
deficientes visuais. Os filhos acabam sofrendo nas escolas com as atividades de
educação física, acabam sendo excluídos por causa da falta de preparo de alguns
profissionais.
In Moda- Fernando para você
que tem deficiência visual, quais são as dificuldades que surgem na hora de
comprar e escolher suas roupas e depois em casa para pegar no armário as peças
que você quer?
Então,é assim, como eu já enxerguei e perdi a visão ao longo
do tempo, tem uma memorização de tudo aquilo que eu vi quando eu enxergava.
Então o que acontece? Quando eu perdi a visão, a primeira forma foi adaptar as
coisas. Nem sempre vai ter uma pessoa à minha disposição pra eu falar : Ah, eu
quero a roupa tal. Então, a opção foi separar , calças assim aqui; calças dessa
cor ali, todas as camisas dessa cor, desse modelo, aqui...Você entendeu? Porque
aí eu vou tateando,e eu sei que caça tal
vai estar lá e camisa tal também. Às vezes não acontece isso, mas na maioria
das vezes é assim que funciona.
In Moda- E na hora de comprar
essas roupas, como é que você faz, já que as lojas ainda não trabalham, por
exemplo, com etiquetas em braile?
Então, na hora de comprar é junto com minha esposa ou junto
com o meu amigo, que está aqui ao meu lado, o Mozart, que é um parceiro que
está sempre comigo. É sempre perguntando pra ele como é que tá a tendência de
moda, ele também já conhece um pouco do meu estilo, tipo de tênis que eu gosto,
roupa...Mas quanto menos você depender, melhor pra você. Você sabe que sua capacidade
vai aumentando, você vai a uma loja e não ter que pedir nada pro vendedor
porque você sabe que vai colocar o dedo na etiqueta e vai ter a descrição do
produto que você está procurando, entendeu? Isso é uma coisa muito benéfica,
uma coisa maravilhosa que se vier a acontecer realmente vai ser muito bacana.
In Moda- Qual estilo de roupas
você prefere?
Então, eu gosto muito de roupas em tecido tactel, tanto em
calças, como em bermudas e bonés...É assim, tipo, eu não sou muito de usar jeans,
eu odeio roupa social, só uso quando tenho que usar mesmo, em último caso.
Então eu procuro sempre é...seguir nessa tendência...
In Moda- Esporte!
Fernando- Exatamente! Entendeu? Eu acho que é uma coisa que
quando eu enxergava ficava muito bom e eu acabei adotando como um estilo fixo,
entendeu?
Eu fiquei curiosa
para saber se você já fez algum tipo de curso de mobilidade? (pergunta feita
pela Carolina Custódio, que estava conosco durante essa entrevista)
Então, esse curso existe não se chama curso de mobilidade,
ele se chama curso de AVDA – Atividade da Vida Diária.
Carol- Ah, que legal!
Fernando- É, um curso eu engloba várias coisas. Como guardar
as coisas dentro da cozinha da sua casa, como você proceder para fazer um
arroz, um feijão, um café... Tudo é técnica, porque você não vê, então você usa
muito a técnica auditiva, o tato...Como você deixa as coisas na sala, no
quarto, no guarda-roupas, no banheiro, entendeu? Aqui em São Paulo, a única
Instituição que tem esse curso é a Fundação Dorina Nowill para cegos. A procura
é muito grande, mas é uma coisa muito bacana.
In Moda- Eu fiquei sabendo que
você arrasou em uma atividade de dança na faculdade. Como foi?
É,foi uma atividade de ginástica geral onde a gente tinha
que desenvolver trinta e seis movimentos artísticos com e sem música. E aí,
através dos professores- a nossa professor e o auxiliar de dança se propuseram
a fazer comigo essa atividade , que não foi fácil! Tipo assim, eu não tinha
final de semana porque tinha que ensaiar todo o dia, mas oi uma coisa bacana,
emocionou a professora, que ficou chocada com os meus resultados. Ela não
acreditava que seria possível isso acontecer. Ela até pediu desculpas, pois ela
havia dito pro meu grupo que eles não conseguiriam realizar essa atividade
comigo. E o pessoal conseguiu! Isso prova que a deficiência impõe limites só na
cabeça dos outros
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Samya(In Moda), Fernando Lopes e Mozart. |