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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Entrevista com Drika Valério

Como já dissemos  e mostramos antes aqui no blog, a vencedora da 4ª edição do Concurso de Moda Inclusiva, que rolou ano pasado foi a Drika Valério. Mas nós não podíamos ficar só nas fotos, então você confere abaixo a entrevista que fizemos com ela.


Drika
 

In Moda- Drika, como surgiu a ideia do vestido de noiva que você levou ao desfile do Concurso?

Drika - Bom,  tudo surgiu na época do TCC. E eu louca com um monte de ideia, querendo fazer tudo ao mesmo tempo. E tava bem na época do casamento real e todo aquele glamour com o vestido da princesa, e eu: Gente, eu quero fazer um vestido de noiva! – Mas eu ficava pensando: um vestido de noiva... De que isso vai servir pro mundo? Né? Eu queria fazer  uma coisa diferente e não conseguia ter ideia de um vestido de noiva diferente. E colorido já existe, assim já existe e de arrancar a saia já existe. O que  é que eu vou fazer? Até que um amigo pegou e sugeriu: Por que é que você não trabalha...esquece isso e trabalha com moda inclusiva? Aí, eu fui atrás, aperfeiçoei a ideia e falei assim: Não, eu não vou abandonar o que eu queria. Então vamo unir o útil ao agradável. Vamo trabalhar com moda inclusiva, mas de um jeito que chame a atenção: vestido de noiva! Que é uma coisa que ainda não tem! Aí, eu resolvi fazer um vestido de noiva inclusivo, só que focado pra inclusão, que é o que o pessoal ainda não entende hoje em dia. Inclusivo não é roupa pra deficiente, é roupa também pra deficiente, é pra todos! Que tanto uma pessoa sem deficiência ou com deficiência vai poder usar. Aí é que o diferente.

In Moda - Resolvida essa parte, como foi o processo de execução dessa ideia?

Drika - Eu não tive um centavo de gasto em toda essa ideia e nem quando eu vim pro concurso também. Eu podia pedir pra minha mãe pagar a passagem, e tudo, mas eu falei: Não é justo! Eu ganhei, então eu vou dar um jeito de ganhar as passagens também. – Com o vestido foi a mesma coisa. Eu tive a ideia do vestido, desenvolvi, desenhei, peguei um pedaço de um tecido, cortei e fiz pruma boneca, pra testar na boneca a peça piloto. Aí, falei: Vamo executar. Mas vamo fazer um vestido de noiva e vamo fazer bem feito. – Um vestido de noiva não é barato. Eu não tenho como pagar. O que é que a gente vai fazer? Fui lá, pesquisei as dez lojas de noiva que eu mais gosto em Bauru, que eu acho que são as melhores e falei: Vamo primeiro na melhor, aí depois a gente vai indo nas outras, né? Uma delas tem que topar. Não é possível tomar dez nãos, né? – E fui! Com a cara e com a coragem, sem saber nem o que pedir exatamente. Cheguei: Ó, meu projeto é esse. – Na primeira loja, que é a Lauviah Ateliê, lá de Bauru, na hora eles toparam! A melhor loja que eu achei, na hora eles assumiram a ideia e me ajudaram a desenvolver o croquí e fizeram o vestido... E descobriram que eu sei costurar, então  eu ajudei a costurar até certas partes do vestido por que é lógico que é complexo. E ele foi todo bordado com Swarovski e pérola sintética. Foi a coisa mais linda do mundo! Ficou um vestido de princesa mesmo. E depois eles me doaram o vestido porque ele tem que ficar pro acervo da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiencia aqui de São Paulo. Ou eu mandaria fazer outro, que eu não tinha dinheiro , ou eu tinha que deixar esse vestido aqui. Aí eles me doaram o vestido, que ficou aqui.

In Moda - E o que torna esse vestido inclusivo?

Drika - Esse vestido foi projetado inteirinho em metodologias científicas,  na tecnologia assistiva, que consiste em pegar produtos que já existem e adaptar pra pessoas com deficiências; e no Design Universal. Então aliando a tecnologia com o design universal, que é aí que tá a grande inovação dele, que não tinha isso ainda. Aí pensei em fazer um vestido , que nesse caso, seria o vestido de noiva pra que qualquer pessoa do mundo pudesse usar. Assim, é lógico que nos extremos, você não vai conseguir agradar todo mundo e nem conseguir fazer com que caiba e se adapte a todo mundo, mas ao maior número de pessoas possível. E esse vestido, ele foi dividido em corpete que veste por cima, acabou. A saia, ela tem uma regulagem de elástico, então ela serve tanto pruma pessoa mais gordinha,quanto pruma mais magrinha. Então aí você já matou o tamanho de manequim, o corpete, a mesma coisa, ele é regulável atrás, então já serve pra manequins diferentes. E... o grande truque na regulagem da saia, que não sei se você lembra, no... no... concurso, que a própria modelo pega e puxa a regulagem da saia e deixa ela no comprimento que ela quiser longa, média ou curtinha. E no caso de pessoa com deficiência pra não pegar na roda ou até de uma pessoa amputada, que usa muleta também precisa subir o vestido ou no caso de uma noiva que quer curtir a festa com um vestido mais curtinho. Ela mesma vai lá e, né? Já vai curtir a balada da festa e depois  deixa ele longo de novo! Então, prático e serve pra qualquer tipo de pessoa. Nisso que eu me foquei, no design universal – mesmo!


In Moda - Um dos prêmios para o primeiro lugar do Concurso de Moda Inclusiva foi o estágio na Vicunha Têxtil. Mas você também ganhou há pouco tempo uma bolsa para um curso e ganhou ssa bolsa com um outro projeto em moda inclusiva. Fala um pouco a respeito disso.

Drika - Coincidiu da Bel Passi voltar para o Brasil e abrir uma escola de empreendedorismo no mês que ia estar aqui fazendo o estágio na Vicunha. E eu fiquei louca! Só que eu nunca ia ter condições de pagar. Aí eles falaram que iam dar dez bolsas. Eu falei: Nem vou participar. Porque é sorteio, depois eu fico frustrada por não ganhar. – Mas daí eles deram um critério de não sortear. De...Por competência. Então você tinha um prazo de seis dias para desenvolver, implantar e mostrar os resultados de um projeto e mandar pra eles.Imagina: seis dias pra você fazer um TCC! Foi muito corrido.Mais seis dias sem dormir, roletando e trabalhando o dia inteiro nisso. E eu tenho uma amiga que ela descobriu, faz um mês, que com câncer. E coincidiu dela ir numa loja, desesperada, procurando blusinha porque ela não conseguia vestir já que ela operou e estava com o movimento do braço restrito.Ela não conseguia fazer isso aqui (movimento que fazemos com o braço quando estamos para vestir uma blusa ou camiseta), tinha que ficar com o braço só assim (mais encostado ao corpo). Então ela só podia vestir a roupa por baixo. Blusinha, top, isso é muito difícil. Não tem como vestir blusa por baixo. Aí, lá vai eu com a tesoura, dar um jeito nas blusas dela. Aí eu fiz um top, uma que amarrava por trás e...e...pra ajudar ela. Como surgiu essa ideia do projeto? Falei: Por que não usar ela no projeto? E ajudar de verdade né,  todas as pessoas, não só ela; que passam por isso. Daí eu desenvolvi três peças em um dia, no outro dia eu costurei as três peças e elas são extremamente simples. Blusinhas que dá pra vestir por baixo, uma tem velcro aqui (do lado) pra não pegar na cirurgia dela, dá pra passar  dreno e não precisa erguer a mão; a outra é de amarrar atrás do pescoço e a outra é uma blusinha que tem dois lacinhos, então você veste por baixo, amarra aqui e aqui ( as alcinhas são de amarrar sobre os ombros) e acabou. Essas três peças que eu fiz, uma coisa bem simples, mas que facilita a vida, e muito! Nisso já consegui apoio d.. em seis dias, da Secretaria da Cultura de Bauru, da Amigas do Peito de Bauru, que é um grupo de apoio à mulheres com câncer. Nesses mesmos seis dias teve o dia que ela raspou a cabeça porque o cabelo ia começar a cair. O meu(cabelo) era aqui (quase na cintura), eu doei mais de trinta centímetros para fazer peruca para pessoas com câncer de Bauru tmabém. Nã foi só pra ela, a Amigas do Peito faz peruca pra emprestar pra quem não tem condições de comprar, então isso foi bem legal! E...ela me ajudou. Já teve amiga dela que falou: Eu vou ajudar também. - Já vestiu a blusinha, já me ajudou a fazer o video, a matéria pra mandar.Aí eu enviei o projeto e ganhei essa bolsa também. Dez do país e eu soube que foram mais de cento e cinquenta inscritos e todos projetos ótimos. E eu tive a graça de ganhar uma dessas dez bolsas. E muita gente vem e fala assim: Nossa, que sorte heim! – Eu falo: Não é sorte, é competência! É muito diferente. Sorte se eu ganhasse na loteria. Competência é outra coisa.

                                   Samya e Lucas(In Moda) e Drika Valerio


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